O FANTÁSTICO MUNDO DE CHUCK

16.5.08

Memórias de caras pintadas

Comecei a ler o livro do Saulo Ramos, Código da Vida. Instigante e envolvente, mas não me prendeu muito diante do cansaço causado por um resfriado que me persegue.

Chamou-me a atenção o prefácio. O autor destaca vários momentos vividos pelo mesmo. Sua participação em momentos marcantes da história nacional. E aí veio a menção ao tempo dos caras pintadas, do “Fora Collor”, do primeiro e único impeachment do Brasil.

Estava na sétima ou na oitava série. Tinha pouco interesse por política, mas acompanhava relativamente o caso. Um caso tão simples, com poucos personagens, poucos culpados e até pouco dinheiro. Bem diferente dos dias de hoje em que redes complexas são armadas para inviabilizar a identificação de todos os envolvidos e os valores “sujados” montam cifras vultuosas.

Voltemos aos tempos do Fora Collor. As ruas eram tomadas pelos caras pintadas. Os portões do Ari de Sá era açoitados pelos já envolvidos no movimento. Convocação aos que estavam em sala. O diretor ingressa na sala e pergunta se alguém tinha interesse em sair. Pensei: pelo menos metade vai levantar e eu vou junto. Que nada. Talvez porque era aula de revisão, ou por medo do diretor. O fato é que nem os marginais, nem os politizados, nem os rebeldes sem causa, nem os nerds, ninguém se ergueu. Ninguém se juntou aos caras pintadas. Pelo menos, ninguém da minha sala.

Queria contar uma história diferente. Queria ter a mentalidade que desenvolvi na Universidade. Ter sido como um grande amigo meu da outra turma: único a levantar e, junto com vários estudantes do segundo grau, acompanhar a turba. E era um cara calado, mas firme em suas convicções. Estava convicto que iria se divertir e ainda participar da história: acertou.

Hoje, a geração que poderia pintar a cara já não tem a mesma força. O movimento estudantil até se insinua aqui e acolá, mas está tão contaminado por partidos e por políticos que perdeu a marca base de ser a expressão pura e simples da indignação juvenil. E nós – mais velhos - vamos cada vez menos supressos com viagens suntuosas e desnecessárias, redes de influências, dossiês, depoimentos mentirosos, “mensalões”... desvios de dinheiro e de conduta.

Enquanto isto, o ex-Presidente - no passado derrubado - já não constrange e nem incomoda. Penou por um período sem direitos políticos, perdeu poder e expressão, mas se recuperou e se recupera: já ocupa cargo eletivo top no poder legislativo. Quiçá, se voltasse à Presidência, por temor ao já vivido, seria dos mais corretos. O que me incomoda são as companhias com quem ele tem andado ultimamente...

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