É um, é dois, é três... E lá vou eu. Não fui. Calma. Respira. Já teve coragem para por um fim nesta coisa chamada de vida. Chega de dívidas. Chega de esposa traíra. Chega de empresa injusta. Chega de chefe babaca. Chega de carro que não pega. Vou pular. Claro que vou. Sou um cara de coragem. Sempre fui. É só não pensar que o prédio tem 37 andares, fora os três andares do shopping. Pura bobagem... Mira no teto de vidro. Como é que se chama aquilo mesmo? Clarabóia? Palavrinha feia... Já sei! Vou pular em cima daquela BMW. Causar logo um prejuízo para um riquinho besta. Hum... Mas e se tiver criança dentro? Não. Quero ir sozinho, sem levar ninguém comigo. Vou cair na direção do jardim do lado esquerdo. Bucólico. Um lugar bonito para morrer. Aí me lembro da história da abestada que pulou, ficou presa em uma palmeira, arrependeu-se e ficou pedindo socorro. Patético. Meu suicídio será digno. Como o de um samurai. (choraminga) Mas será que vai doer? Boa. A piscina do clube. Vou na direção dela. Deve doer menos. Mas e se eu escapo? Dói nada, abestado. É som “pam” e pronto. Ou seria “trum”? “Crash”, talvez... Chega de besteira. Vamos lá. Vire-se. Caminhe até o outro lado do teto. Continua caminhando mesmo quando acabar o piso. Vai lá. Um passo. Outro. Acelera o passo. Fecha os olhos. Não pensa. Mais rápido. Lá vou eu... (Tumc, tumc, tumc.) Ué, batentes? Úia. A escada de incêndio. Deve ser um sinal. Quer saber? Vou resolver umas coisas antes Dizer umas verdades para o chefe. Vender o carro. Pagar as dívidas. E, pra terminar, vou dar uma surra no negão que pega minha mulher...Se bem que o cara é grande... Seria suicídio...