Acumulou de novo. A economia familiar ficaria exultante se o sorteio caísse para um dos seus membros. Enquanto isto não ocorre, torcemos para que continue acumulando, o que aumenta o volume de jogos e dá mais rendimentos à Casa Lotérica da minha mãe.
Quem aqui nunca fez planos sobre o que faria se ganhasse um prêmio como o próximo? Mais de 40 milhões... Dá pra mandar muita gente para a pqp, não é mesmo? Os planos são os mais diversos. Devaneios com estrelas globais e capas da playboy. Carros milionários. Festas incansáveis. Barcos. Alguns exageram, mas é sonho, então, estão no direito. Eu só não me conformo com quem diz que continuaria no seu atual trabalho.
Por volta das 15:00 de um certo dia, um cliente pede uma pesquisa complicada sobre uma matéria que ele sabe ser estranha e nova. Quer o resultado para discutir em uma reunião no dia seguinte pela manhã. Ainda na noite daquele certo dia, por volta das 22:00, o cliente enlouquece desnecessariamente e exige uma medida judicial totalmente alheia ao assunto da pesquisa também para o dia seguinte. A minuta passa a ser mais importante. Todo o trabalho da pesquisa, que era racionalmente mais sério e que já havia consumido muito tempo, é deixado de lado.
E não basta advertir incisivamente que o corre-corre na tal medida judicial é desnecessário, arriscado e, ainda assim, periga não dar tempo. No fim, não deu para propor. O cliente fica puto? Não. Ele sabia que era difícil, mas por alguma satisfação insana ou problema de egos internos não-desafiados, queria que se tentasse a qualquer custo. Não deu? Finge que está puto, mas diz que pode propor no outro dia e fazer o negócio de uma forma estrategicamente adequada (como sugerido desde o começo).
Por que contei estes fatos? Porque eu me imagino com uma dezena de milhões na minha conta e sendo posto diante de tamanha falta de razoabilidade. Seria a situação em que você pediria a todos os que trabalhassem no dito cliente que entrassem numa fila indiana e fossem descontando no que está a frente o chute que eu daria no traseiro do último. Todos seguindo para o inferno, ao som no repeat de Que nem Maré (Jorge Seboso Vercilo) por toda a eternidade.
Tomara que eu ganhe. Por patéticos pudores e uma mediana bondade que persiste em meu coração (apesar de só andar com seres do mal), talvez eu não mandasse nenhum dos meus futuros ex-clientes para a PQP. Mas saber que poderia já seria ótimo.
Ah. Meu devaneio no caso de ganhar? Além da parte das festas, viagens e putaria - tudo acompanhado de uma penca de amigos - ajudaria minha família (que é bem grande), praticaria esportes legais (menos pólo e golf que eu acho frescura) e ainda separaria parte da fortuna para uma Fundação. Sei lá, talvez, uma assessoria jurídica para necessitados. O que sei é que me restariam uns dez milhões pessoais para continuar fazendo aquela parte das festas, esportes, putaria, capas de playboy, etc, etc.