Não. O esquecimento não foi de minha pessoa. Por isto, as aspas. Na verdade, eu fui quem esqueci de algo.
Acordo. Velha preocupação de ir trabalhar cedo, não obstante a saída na noite anterior. Tomo banho. Visto as roupas. Tomo café. Pego o ônibus e chego ao escritório 08:30.
Só após ligar o computador, apreensivo para terminar uma petição, percebo que a chave de minha casa está no meu bolso. Até aí, um fato normal. Só que lembro que esqueci algo em casa. Algo chato, reclamão, bagunceiro e parecido com um kiwi. O Delano ficou trancado. Ligo para o celular dele:
Eu: - Delano, olha se eu deixei a porta aberta?
Delano: - Sperainda (ele fala assim). Não. Tá trancada. Por quê?
Eu: - Merda.
Delano: - Ei macho. Como é que eu vou sair?
Eu: - Mas é isto mesmo. Estou indo aí te soltar.
Fiquei puto comigo mesmo, pois tinha (e tenho) uma porrada de coisa para fazer. Mas me preparei para ouvir meia hora de reclamações, desta vez, justificáveis. Surpreendentemente, a bicha depilada pouco reclamou.
No trajeto para o trabalho, fique pensando. Com tanto morro, favela e ruas perigosas nesta cidade, eu esqueço do Delano logo no último canto em que fatalmente eu iria encontrá-lo de novo? Isto sim é leseira.