Esta pergunta me foi lançada tarde da noite, em tom de brincadeira, por um dos meus amigos mais antigos. Na hora, eu ri da analogia, mas a verdade me incomodou. Ele está certo. Nos últimos anos, tenho vivido da e pela emoção alheia.
Antes que dúvidas e protestos sejam levantados, esclareço que a emoção específica a que ele se referia era a emocional por uma mulher. Não se estava discutindo sentimentos como amizade, raiva, ansiedade, satisfação, frustração, paz, tesão. A matéria voltava-se para o enlace com uma mulher: a paixão, ou o amor.
Este último , eu nunca senti por uma mulher. Nunca disse: “eu te amo” para uma namorada, pois não seria sincero e acho que é um sentimento que merece a seriedade e o respeito. A paixão já tive. Paixões impossíveis infantis, paixões retumbantes da adolescência, paixonites e, por último, mais de seis anos atrás, uma paixão cultuada, amadurecida e, talvez, desperdiçada pelo curto tempo que para mim durou.
Sofro da síndrome de melhor amigo. Sofrer não seria o verbo adequado e “melhor amigo” é uma caracterização que eu exclui do meu vocabulário, pois acho desnecessária. Tenho amigos e pronto. Sei que posso contar com eles, de forma diferente, mas posso. A questão sobre mim é que estou sempre disposto a ajudar, ouvir, aconselhar, emprestar o ombro, fazer rir, sair para beber e até frescar (em alguns casos, a banalização do problema pode ajudar a enfrentá-lo). Ou seja, fazer o que um amigo faz como amigo. Todavia, raramente, tenho meus problemas para expor, pois não tenho vida amorosa para “enfrentar” e, de resto, sou geralmente poupado de problemas graves nos outros campos da vivência.
Não é produtivo remoer o passado e o presente desperdiçado, mas o mal de pessoas imaginativas é criar alternativas diversas para a realidade. O que está me irritando é que, de tanto olhar para as hipóteses e para o alheio, trancafiei-me fora dos relacionamentos amorosos reais. Talvez seja o caso de me expor. Talvez...
A maioria dos meus amigos vai me chamar de veado, banalizar o ora exposto e pronto. Você, leitor(a) mais sensível, não os critiquem. Nem eu considero este local o mais adequado para expor este incomodo, ou para discuti-lo de forma séria. A questão é que, no momento atual, não disponho de outro.
Não seria o caso de ligar, pois não estou precisando desabafar. Não estou nenhum pouco triste com isto. Um pouco zangado com a apatia sentimental da minha vida, mas, ao mesmo tempo, conformado e, digamos, ciente. Pelo menos para mim, essa estória de relacionamento não funciona como uma decisão: “vou arrumar uma namorada”. Não se controla este tipo de coisa. Ela deve fluir normalmente e, enquanto não vem, ou se não vem, só resta aproveitar a vida de solteiro. No mais, tenho projetos definidos para iniciar e tocar.