O FANTÁSTICO MUNDO DE CHUCK

10.4.03

CONTOS MEDIATOS DE 1º GRAU MENOR

Prólogo:

A 1ª Série poderia ser considerada um período tenebroso. Juba não sabia o que o esperava. Ele só tinha a certeza que agora ele era um “Doutor do ABC” e saía das salas de pré-escolar para subir ao primeiro andar das grandes escadas de orgulho. Ser um aluno do primeiro grau-menor dava uma certa sensação de status, apesar de ele ainda não conhecer o significado desta palavra.

Juba sempre achou estranho o fato de na 1ª Série haver tantos alunos do tamanho ou menor do que ele. Em toda a sua vida de primário, ele sempre foi o maior e o mais forte da sala, sendo comumente chamado de Jubão. Mas esta força não era utilizada exatamente como a maioria das crianças a utilizariam. Jubão não poderia ser considerado uma criança exatamente sensível, apesar de emotivo.

A emotividade de Juba manifestava-se pelas coisas mais simples e, na maioria das vezes, era mero exercício dos mimos recebidos. Ele era capaz de chorar pelo simples fato de um “amiguinho” que ele mal conhecia dizer-lhe que não era mais seu amigo. Da mesma forma, ele era capaz de chorar por brinquedos, animais e por comida. Não se iluda. Como a maioria das crianças tidas por fortes, Jubão era bastante gordo.

Mas, mesmo com essa aparência robusta, ele gostava de ser bom amigo e de brincar com vários amigos. Verdade seja dita, ele era uma criança mandona, mas, para uma criança, era uma líder quase justo. Não batia em crianças que julgava consideravelmente menores do que ele, exceto se essas batessem nele primeiro. Aí já era atrevimento demais, na sua infantil concepção. Mas a verdade é que, no começo de sua vida escolar, ele não batia em ninguém, só apanhava.

Certa vez, ele chegou em casa chorando enquanto contava que um amiguinho tinha lhe batido. O pai, um ótimo homem, mas que não dispõe de todos os conhecimentos da dita psicologia infantil e naquele dia na devia estar com muita paciência para orientações mais profundas, disse-lhe: “se você voltar para casa chorando porquê apanhou e eu souber que você não revidou, você apanha de novo”. Juba morria de medo do pai, mesmo este só tendo batido nele uma vez na vida e ele nem lembrava deste evento.

Na verdade, o que ele julgava ser medo, quando mais velho descobriu que era respeito. Mesmo adulto já encaminhado na vida, bastava ouvir a voz do pai em um tom mais grave, chamando-o pelo nome e não pelo apelido, que sentia um certo frio na espinha

No dia seguinte àquele conselho, o pai de Jubão recebeu uma reclamação da “Tia do Jardim Um” sobre agressões cometidas por seu filho. Então, mais consciente e com um certo orgulho másculo-paternal, o pai pediu para que seu filho não agredisse, apenas se defendesse.

O fato ocasionador daquela reclamação fez com que os que não gostavam de Jubão tivessem medo dele. Foi estranho para aquelas malévolas crianças descobrirem que o gordo saco-de-pancadas poderia revidar ao ser xingado de perna-de-moça, ou ao ser agredido. E foi aterrorizante ver como o um soco e uma cabeçada poderiam doer tanto.

Este medo, com o tempo, deixou de existir, pois os inimigos viram que ele não pretendia abusar agressivamente da sua recém descoberta força. Assim, a facção masculina da sala passou a ser mais unida, tendo Jubão galgado a condição de uma espécie de líder da turma.

Esta condição não foi conquistada apenas pelo fato de o ser mais forte. Outro aspecto relevante de Jubão era que ele tinha uma imaginação extremamente fértil e conseguia bolar ótimas brincadeiras. Em tempos de Daniel Azulai e Balão Mágico, Jubão era fanático por desenhos animados e aplicava, com aprimoramentos, a criatividade destes “filmins”, como ele os chamava, às brincadeiras na hora do recreio.

Agora chegava a 1ª Série. Na alfabetização, com uma certa preocupação, Jubão percebeu o surgimento de um aluno que tinha quase seu tamanho. O primeiro grande impacto que ele sentiu no início do primeiro-grau-menor foi quando entrou na sala e percebeu que haviam outros alunos próximos ao seu tamanho. Antigos coleginhas estavam crescendo e novos alunos ingressavam no colégio. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a presença de um novato maior do que ele, ou melhor, de uma novata.

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Continua na próxima quinta-feira.

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