Quando soube que iria morar no Rio, preparei-me psicologicamente para ficar bons tempos sem ficar com alguém. As razões iniciais se aplicam em qualquer local que eu esteja: (i) sou muito tímido no quesito paquera; (ii) não sou nenhum modelo de beleza; e (iii) sou educado demais para puxar, segurar ou tentar beijar uma mulher usando a força.
Aqui no Rio, todavia, ainda contava com outros agravantes: (i) maior equilíbrio entre número de homens e mulheres (na verdade, acho que aqui tem mais homem); (ii) concorrência sarada e mais alta; (iii) mulheres bairristas (a única parte que eu estava errado e exagerando) e consideradas as que dispensam um cara de forma mais incisiva; e (iv) ausência do Forró (não falo do ritmo em si, mas do tipo de ambiente onde ele é normalmente dançado em Fortaleza).
Todavia, neste domingo, a minha premonição mostrou-se errada. Vamos ao relato:
Local: Casa da Canal (coincidentemente, o mesmo da confraternização)
Evento: Chopada de Fim-de-Ano. Nós, cearenses, não costumamos utilizar essa palavra “chopada”, pois consideramos o óbvio duplo sentido. Mas os cariocas usam com habitualidade e ela não necessariamente se refere à Chop. Nesta festa, por exemplo, era cerveja que, por sinal, tinha em bastante quantidade e sempre gelada. Ah, e era Skol que é muito boa, apesar de eu preferir Antarctica.
Música: baina. Em especial Asa e Chiclete. Detalhe que os cariocas preferem o Asa, mas em Fortaleza é o Chiclete quem manda.
Estilo da festa: parecia uma micareta.
Round 1: estou entrando na festa. Cheguei tarde, pois estava trabalhando e iria encontrar os estagiários que me chamaram já lá dentro. Menos de dez minutos após ter entrando, passa uma menina olhando para mim. Meio que sem pensar (graças à Deus, se não eu não teria feito) peguei na mão dela e puxei para arriscar um beijo. Ela deixou.
Beijo rápido e descompromissado. Depois foi cada um para um lado. Serviu para romper a barreira.
Round 2, 3, 4, 5, 6, 7: que eu lembre foi esse o número de tentativas posteriores. Todas não correspondidas e, em todas eu pouco pensava, ou dizia para mim algo do tipo : “se não for lá em dez segundos, vai ter que amputar um dedo”. É óbvio que eu não faria isto, mas às vezes, eu tenho medo de mim.
Round 8: última tentativa da tarde. Puxei conversa aproveitando-me do fato que ela estava usando um lenço do Siriguela amarrado na cintura. Falei que era de Fortaleza, etc e tal. O papo corria de forma bem desinteressante. Faltava objetividade. Resolvi tecer algumas elogios (ela merecia), mas sem exagerar muito para não parecer que estava em desespero. Ela sorria fingindo falso lisonjeio. Arrisquei um beijo, mas ela desviou o rosto, virou-se de costa e começou a conversar com uma amiga.
Olho para o chão. Se eu fosse uma avestruz, teria enfiado a cabeça no piso de cerâmica mesmo. Quando já estou me preparando para sair como se nada tivesse acontecido, ela voltou a conversar comigo. Não sei que entorpecente a amiga dela deu para ela, mas sou eternamente agradecido. A menina estava mais animada e já dava alguns sinais de interesse. Respirei fundo. Ameacei-me enfiar uma agulha na testa (eu tenho medo de agulhas).Tentei de novo o beijo e ela deixou.
CLAP CLAP CLAP CLAP (isto significa aplausos, apesar de eu achar que nenhum produz este som)
De repente, fui tomado por um impulso de querer soltá-la e fazer a dança da vitória no melhor estilo Chandler de “Friends”. Mas achei que isto poderia não ser bem entendido. Sei lá? O mais provável é que, se eu tivesse feito aquilo, ela jogasse bebida nos meus olhos, cegando-me. Depois, chutaria no ponto fraco masculino e me empurraria no chão. Pisaria em minhas costelas e, usando um apito, convocaria um bando de terroristas muçulmanos que me seqüestrariam para ser utilizado como homem-bomba involuntário em algum atentado contra o Império.
Então, como forma de preservar a vida dos americanos, eu contive aquele impulso e fiquei com a menina o resto da noite