O nome dessa coluna se deve ao fato de que ainda me considero bem criança, nos aspectos positivos que isto representa, claro. Ela vem para substituir a Desmistificando a Infância, pois este titulo era muito restrito.
Pois bem, quando eu era mais menino achava que uma criança nascia da seguinte forma: um homem e uma mulher casavam (sim, achava que o casamento era obrigatório). A partir daí, eles podiam decidir ter filhos. Para tanto, bastava eles combinarem em uma discussão que eu via como bastante complexa. Algo do tipo: “Amor, vamos ter um filho?” - “Taí, vamos”.
Então, a mulher apenas precisava comer muito. Só que, como eles já tinham combinado, a comida viraria uma criança que depois nasceria.
O motivo de eu lembrar tão bem disto é que esse mito me foi quebrado de forma brusca. Até uma certa idade, pensava que o sexo (com certeza, eu não o chamava assim) somente era realizado em sua forma anal e não teria qualquer utilidade, além da saliência. E este entendimento formou-se com base em conversas ouvidas ao vivo, ou na TV.
Pois bem. Certa vez estava com meus pais em uma pousada no Morro Branco. Havia uma turma de amigos deles com filhos mais ou menos da minha idade. É impressionante como me lembro de várias coisas dessa viagem e isto faz muito tempo, pois eu ainda estava, por exemplo, aprendendo a nadar e eu nado desde os sete ou oito anos.
Certa noite, estava conversando com alguns filhos de amigos dos meus pais. De repente, uma informação deixou-me horrorizado: um dos garotos falou que o sexo era pela frente. Eu disse que ele estava mentindo, pois não tinha como caber.
Então ele pegou pesado. Disse que era verdade e que meus pais faziam assim e que foi por isto que eu nasci. Neste momento, cumpre tecer uma explicação sobre meu aspecto físico infantil. Por um certo tempo, eu era muito alto e muito gordo para minha idade (Deus e suas ironias). Na época do fato em questão, este aspecto físico já estava sendo revertido, pois as pessoas estavam crescendo e eu começava a ficar baixinho. Mas ainda tinha uma altura boa. Lembro que era um pouco menor do que o maldito infame, mas era bem mais gordo e isto, na infância, se confunde com força.
Voltando à história, fiquei enfurecido e dei um empurrão no garoto. Ele me deu um tapa na cara, mas eu estava com tanta raiva que nem senti. Segurei o indivíduo e sai empurrando-o e batendo nele até a beira da piscina. Então, joguei ele na água. O irmão caçula dele aproveitou-se da minha distração e me empurrou junto.
Então aquele prestador de informações “abusrdas” viu e falou, em desespero, que havia uma placa de que a piscina estava em tratamento. A raiva passou e veio o medo de que nossa pele e cabelos iriam se desmanchar com o cloro. Saímos apressados da piscina.
Trocamos, ainda, algumas fortes ofensas. Salvo engano, eu o chamei de “cara de côcô velho” e ele me chamou de “cara de rato esmagado”.
Fomos cada um para seus quartos. Fui direto tomar banho e vi, aliviado, que minha pele não caiu. Deixei de acreditar que o cloro faria isto? De forma alguma. Não se livra de uma verdade dita pelos pais tão facilmente. Achei que a placa estava errada e que a piscina não estava em tratamento.
Duas semanas depois, contei a história para meu pai e perguntei se era verdade o que aquele moleque tinha dito. Não lembro do teor das explicações que ele me deu, mas lembro que uma dúvida ainda ficou no fim daquela conversa: “Como é que cabe?”