Em minha estréia dirigindo na noite do Rio (comprei um Stilo preto), fiz-me, voluntariamente, de motorista para alguns advogados cariocas. O nosso destino era a confraternização de fim-de-ano do escritório.
O local, chamado Casa do Canal, é legal e a festa foi bem interessante. Nas rodas de conversa masculinas, o nível rasteiro dos comentários permitia risos e confraternizava do sócio de capital ao estagiário. Os homens costumam ter três assuntos em suas conversas: mulher, futebol e sacanear uns com os outros (de preferência, entre os presentes). Mas, fora algumas piadas que se fazia sobre o cabelo de um, ou sobre a roupa de outro, pode-se dizer que as conversas eram apenas sobre as várias mulheres presentes na festa.
O discurso do sócio fundador é sempre bom. Não acompanho-o na emotividade e reconheço que desta vez mal prestei atenção, pois estava ocupado rindo de uns comentários cômicos e cafajestes feitos por um colega. Mas realmente acho que o velho discursa bem, sabendo valorizar qualquer evento.
A música foi bem animada e permitiu que todos caíssem na dança. Aí você descobre que aquela estagiária charmosa é uma dançarina bastante descontraída. Percebe panelinhas se formando e se desfazendo em favor da confraternização. Vê uma ex-paquita dançando de forma discreta e sem coreografias.
A festa foi considerada boa até pelo grupo que eu chamo de advogados cavernosos. São pessoas bem legais, mas, em intensidade e freqüência diferentes, dadas a excentricidades perante o convívio social, preferindo, muitas vezes, evitá-lo. Mas registre-se que os três ou quatro que assim chamo são pessoas bem legais e dentre eles eu tenho até amigos. Poderia chamá-los de cavernosos pessoalmente que eles ririam e provavelmente concordariam. Só não cito os nomes para manter o hábito de isto não fazer.
Dancei de forma comportada. Quem bem me conhece sabe que acho legal dançar fazendo palhaçadas, ou, melhor dizendo, mungangos. E tem certas músicas que clamam pelo exagero e pela comicidade. Mas, sem meus parceiros nessa arte (destaque para o Gabriel, quebrando a regra de não citar nomes) e em um meio onde, além de ser profissional, eu ainda estou sendo conhecido e conhecendo, preferi me conter.
Este mesmo comedimento se justifica no quesito mulher. Não teve nenhuma situação imperdível de mulher dando mole. Normalmente, eu já sou bem tímido neste quesito, mas tento me obrigar a fazer alguma coisa. Só que desta vez eu tinha a desculpa que estava em uma festa do escritório e coisa e tal.
Tocou Forró. É interessante a expectativa que esse estilo de música gera nas pessoas daqui perante a minha pessoa pelo simples fato de ser cearense. Mal a música começa, a outra nordestina do contencioso (ela é do Recife) me puxa para dançar. A verdade é que eu mal danço Forró e, quando muito, engano bem. Além disto, só com algumas eu acerto o passo e com ela isto não ocorreu. Mal desistimos de dançar, já fui tirado para dançar por outra estagiária, essa carioca. Com esta, por ironia, o ritmo já fluiu com mais facilidade.
Inicia-se o movimento que pretende esticar a festa em outro lugar. Fomos para o lugar escolhido, mas ninguém conseguiu entrar. Fica aquela discussão sobre para onde ir, mas eu estava irado comigo e já tinha decidido que, ou lá ficava, ou iria para casa. O motivo da raiva era porque eu raspei a parte de baixo da porta traseira do carro em um muro baixo, o que causou um considerável arranhão. O irritante é que foi por pura leseira, pois eu estava bem sóbrio.
Então, após acompanhar o carro de uma menina até a casa dela e deixar um amigo, segui para minha morada. Passei um tempo olhando para o arranhão, depois dei de ombros e subi.
Por fim, gostaria de registrar que agora me peguei pensando se alguém vai achar snobismo, eu ter falado que troquei de carro. Bom, eu sei que só estava narrando um fato. O que vão pensar é inerente a cada um e não posso controlar. Então, também não devo me preocupar. Pelo menos, não muito.